para acabar em beleza O Mundo aos nossos pés, Ana Soares comenta O ESTADO DO MUNDO. Sábado, Pátio de Letras, 22h, entrada livre.

de

Ayisha Abraham - One Way
Chantal Akerman - Tombée de nuit sur Shanghai
Pedro Costa - Tarrafal
Vicente Ferraz - Germano
Bing Wang - Brutality Factory
Apichatpong Weerasethakul
- Luminous People


O Estado do Mundo reúne um conjunto de seis curtas-metragens, com duração aproximada de 15 minutos cada e resulta de uma encomenda feita pelo Fórum Cultural “O Estado do Mundo” a seis realizadores de diferentes nacionalidades: Apichatpong Weerasethakul (Tailândia), Vicente Ferraz (Brasil), Ayisha Abraham (Índia), Wang Bing (China), Pedro Costa (Portugal) e Chantal Akerman (França). As seis curtas são independentes entre si e cada uma delas é portadora de um olhar único e pessoal sobre aspectos diversos de pequenas partes do mundo actual.

É a estreia portuguesa do filme encomendado pela Gulbenkian a seis cineastas do mundo: Wang Bing, Pedro Costa, Apichatpong Weerasethakul, Vicente Ferraz, Chantal Akerman, Ayisha Abraham.

Não são todos imprescindíveis, mas alguns são-no. Falamos do chinês Wang Bing, do português Pedro Costa, do tailandês Apichatpong Weerasethakul.

Não serão chamariz para uma enchente de espectadores numa sessão comercial dita normal (o risco valia a pena...), mas terão sido esses nomes, mais os da belga Chantal Akerman (menos certamente, os do brasileiro Vicente Ferraz e da indiana Ayisha Abraham), que fizeram com que a Quinzena dos Realizadores de Cannes seleccionasse este "filme colectivo" produzido pela Fundação Gulbenkian.

Seis olhares diferentes sobre o mundo foi a proposta dos programadores da iniciativa O Estado do Mundo. E assim foram arrebatados criadores contemporâneos que fazem a modernidade cinematográfica. A estreia portuguesa, depois da exibição em Cannes, vai acontecer sábado e domingo no Grande Auditório da Gulbenkian, em Lisboa. O que se segue: o circuito de prestigiantes festivais de cinema? Não custa a crer, mas o prestigio pode ser um gueto...

Queria-se complexidade, subjectividade, porque, diz o programa de intenções deste projecto, disponível no site da iniciativa, "hoje não é possível uma única síntese do Mundo, ainda que provisória". Ele aí está, o mosaico. Por nós, ficamos do lado dos espectros. Que é como quem diz, de "Brutality Factory", do chinês Wang Bing - nocturno, brutal, mais uma invocação dos fantasmas da História da China pelo realizador do monumental documentário "Tiexi District"; "Tarrafal", de Pedro Costa, exposição à luz e à natureza do seu mundo de cavernas e sombras - interessa-nos porque nos interessa ver nesta silenciosa explosão luxuriante uma outra luz ao fundo do mundo do realizador de "O Quarto de Vanda"; "Luminous People", de Apichatpong Weerasethakul, cujo título é adequadíssimo: um ritual fúnebre num barco no rio Mekong, ao longo da fronteira da Tailândia e do Laos, é matéria tão imponderável como a luz, ou assim ela nos chega por via das operações de imagem e de som do realizador.

Os outros três filmes são dignos, como se diz cumprem o programa: “Germano”, de Vicente Ferraz, ou os dilemas de uma tripulação que pesca na poluída Baía da Guanabara; “One Way”, de Ayisha Abraham, as memórias e o presente de um segurança que veio do Nepal para Bangalore, Índia; “Tombée de nuit sur Shangai”, de Chantal Akerman, que faz do “skyline” de Xangai um receptáculo do ensurdecedor novo mundo.
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Vasco Câmara, Público



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