Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia: hoje, 21h30, Museu Municipal. Entrada livre.

NOTA PRÉVIA:

Este filme diz-nos MUITO. foi um dos que utilizámos para o concerto, encomendado ao Trio do Zé Eduardo, em Abril de 1999, intitulado "Canções dos Filmes de Abril". Passdos mais 2 anos um outro concerto com outros temas do cinema português e, em 2002, a edição do cd A JAZZAR NO CINEMA PORTUGUÊS! (ainda à venda :-))

Recebeu o Prémio de Melhor Cd de Jazz Nacional nesse ano. E nele, então, a versão de Os Índios da Meia-Praia, com Zé Eduardo na direcção e contrabaixo, Jesus Santradeu no sax tenor e Bruno Pedroso na bateria:



(fizemos 40 espectáculos com este disco, por esse país fora e também em Londres, nos 2 anos seguintes...)

(e não ficou por aqui: produzimos também um video-clip, o primeiro de jazz em Portugal, com realização do Pedro Sena Nunes, e que teve estreia na Cinemateca Portuguesa, a anteceder a exibição do filme de Cunha Telles. Mas isso merece um post à parte!)



A Meia-Praia é uma comunidade piscatória do Algarve nas imediações de Lagos. Depois da Revolução dos Cravos, nos dois anos que se seguiram, vive-se nesse local uma experiência exemplar: como o apoio do SAAL ( Serviço de Apoio Ambulatório) as velhas casas são substituídas por habitações de pedra e os habitantes lançam-se no projecto de uma cooperativa de pesca.


Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia (1976) é um documentário português de longa-metragem de António da Cunha Teles. A obra é um misto de filme etnográfico e de cinema militante, prática corrente no cinema português da década de setenta.

Estreou em Lagos no cinema Império a 25 de Abril de 1977.

Entre o documento etnográfico e o filme-manifesto “Continuar a Viver ou os Índios da Meia-Praia” é documentário sobre uma comunidade piscatória do Algarve nas imediações de Lagos. Depois da Revolução dos Cravos, nos dois anos que se seguiram, vive-se nesse local uma experiência particular: como o apoio do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório) as velhas casas são substituídas por habitações de pedra e os habitantes lançam-se no projecto de uma cooperativa de pesca. Surgem dúvidas e contradições em consequência do desgaste que um projecto de tal empenho implica.


Continuar a Viver, de António da Cunha Telles , é um filme feito em circunstâncias peculiares, durante aquele curto período da his¬tória recente de Portugal em que a Revolução saiu à rua, após o derrube do regime do Estado Novo, e muitos marcaram encontro com a utopia como se o futuro estivesse ali, ao virar da esquina. Foi o que fizeram os protagonistas de Continuar a Viver, os pescadores da Meia Praia, perto de Lagos, cuja ambição era deixarem as miseráveis barracas onde sempre tinham vivido para, finalmente, poderem ocupar uma casa. Para o efeito, constituíram uma comissão de moradores e, com o apoio de uma equipa do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), um organismo enquadrado por arquitectos, meteram ombros a uma iniciativa de autoconstrução semelhante a outras a correr, na altura, um pouco por todo o país. A música de José Afonso, Os Índios da Meia Praia, utilizada recorrentemente, acrescenta ao testemunho das experiências de vida dos pescadores como que uma margem tangível de redenção, uma vez cumprido o percurso libertador para o qual remete, em última instância, a tese do filme.

Zeca Afonso, sobre o filme para o qual compôs a célebre canção Os Índios da Meia-Praia, que é escutada no genérico inicial da obra:



Letra completa, parcialmente cantada na versão original em disco:

Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré
Houve até quem estendesse
A mão à mãe caridade
Para comprar um bilhete
De paragem para a cidade
Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota
Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente está unida
Tudo se faz de vontade
Tudo se faz de vontade
Mas não chega a nossa voz
Só do mar tem o proveito
Quem se aproveita de nós
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Chupam-te o couro cab’ludo
Quem dera que a gente tenha
De Agostinho a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
Foram “ficando ficando”
Quando um dia um cidadão
Não sei nem como nem quando
Veio à baila a habitação
Mas quem tem calos no rabo
- E isto não é segredo -
É sempre desconfiado
Põe-se atrás do arvoredo
Oito mil horas contadas
Laboraram a preceito
Até que veio o primeiro
Documento autenticado
Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado
Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo
E toda a gente interessada
Colaborou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada
Não basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só “unidos venceremos”
Reza um ditado do Povo
E se a má lingua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza
Dos índios da Meia-Praia
Foi sempre a tua figura
Tubarão de mil aparas
Deixar tudo à dependura
Quando na presa reparas
Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
Quem vê na praia o turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfrão capitalista
Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar pra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada
Eram mulheres e crianças
Cada um c’o seu tijolo
“Isto aqui era uma orquestra”
Quem diz o contrário é tolo


Até logo!


Programação do Ciclo de Cinema integrado no conjunto de Exposições "Algarve Visionário Excêntrico Utópico", patentes em Faro, até Fevereiro de 2011, comissariado por Nuno Faria (Allgarve 2010)

Setembro 2010 – Fevereiro 2011
2ª semana de cada mês, de 3ªf (sessão de estreia às 21h30) até final do mês (sessões contínuas na sala audiovisual - r/c, antiga Capela - às 10h-12h-14h-16h)


14 Setembro
Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia, António da Cunha Telles

12 Outubro
Nas Correntes de Luz da Ria Formosa, Jon Jost

9 Novembro
O Grande Rio do Sul: Guadiana, Germano Vaz
O Moinho Branco de Cachopo, Jorge Murteira

7 Dezembro
António Ramos Rosa - Estou vivo e escrevo sol, Diana Andringa

11 Janeiro
As Ruínas do Interior, José de Sá Caetano

8 Fevereiro
Zéfiro, José Álvaro Morais



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