4ªf, SEDE, entrada livre, 21h30. 21 GRAMAS. Beautiful Iñárritu?


Acompanhado de chá, café e bolinhos! :-)

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O maior prodígio do filme é precisamente esse: apesar da montagem dar mais pulos do que um gafanhoto, no final o espectador tem diante de si uma história com sentido e bem engendrada. Um dos filmes mais intelectualmente estimulantes dos últimos tempos. E dizer isto já não é dizer pouco.
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João Miguel Tavares, Première

Ganharia o filme com uma montagem mais convencional, menos parkinsoniana? Quem sabe? Seria obra diferente, sem dúvida (...) O bom deste objecto particular é que não vende os actores à ânsia formalista. Dá-lhes personagens, oxigénio, vísceras e palco tridimensional para actuar.
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António Rodrigues, Diário de Notícias

Depois do interessante episódio do filme "potpourri" sobre o 11 de Setembro e de um sobrevalorizado "Amores Perros", chegam-nos novas e desconcertantes notícias de Alejandro Iñárruti, o bem mais interessante "21 Gramas". Existe um incontestável talento narrativo, para fazer do mosaico dispersivo unidades com sentido, ressalta a capacidade de direcção de actores e o gosto pela estranheza visual, sempre colocada no ponto certo. Fica sempre, no entanto, um estranho sabor a vazio, a encenação sobre o nada, a manipulação dos sentimentos sem um grama de sentimento.
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Mário Jorge Torres, Ípsilon

Um drama sobre pessoas comuns, com problemas comuns, mas de soluções impossíveis.
Já ouvi algumas reclamações sobre 21 Gramas ser um filme clichê. Ouvi também várias pessoas comentando que iriam assisti-lo porque adoram filmes de suspense, sobre almas e tal, e outras que iriam achando que ele tivesse alguma relação com drogas. Não, o filme não é sobre isso. Passa bem longe, por sinal. Ele tem uma referência ao peso da alma sim, onde muitos estudos já ligam essas 21 gramas ao peso perdido por um corpo quando ele falece. Mas essa característica é usada apenas para poetizar o final do filme, não tem nada a ver com sua temática, narrativa ou desenvolvimento. Também não é sobre drogas: apenas um dos três personagens principais tem algo a ver com elas, mas o nome também não se refere a isso.

O primeiro filme americano do mexicano Alejandro González, o mesmo por trás do ótimo Amores Brutos, é muito mais do que uma simples história que se choca em um ponto com algumas situações clichês. Outras até gratuitas. É um filme extremamente sensível, com personagens sofridos, de difícil identificação e, se você olhar de uma maneira bem simples de se dizer, normais. Ele conta a história de Paul Rivers (Sean Penn), um matemático que tem um problema cardíaco e está a espera de um coração. Christina Peck (Naomi Watts), sofre com a perda de familiares e é uma ex-viciada em drogas. Jack Jordan (Benicio Del Toro) é um ex-presidiário que busca seu caminho pela religião agora, mas vive com a sombra do seu passado. Todos esses personagens tem seus destinos cruzados na construção deste cativante drama.

É difícil falar mais sobre a história sem soltar detalhes ou contar pontos de impacto, mas ela não é somente isso. A montagem é feita de um modo bastante curioso, sem uma linha cronológica definida. Às vezes temos uma situação do futuro, depois do passado, depois do presente, tudo colocado de maneira aparentemente solta, mas que age diretamente no nosso sentimento de se preocupar com o personagem ou não. O legal é que não há uma indicação de quando é passado ou futuro, ou seja, vamos nos acostumando com esse estilo com o passar do filme, e às vezes sabemos o destino de um personagem, ou os motivos que o levaram a agir de uma certa maneira no passado, mas que pela montagem, só aparece depois no filme. É como se um personagem estivesse atrás de outro para se vingar, mas só descobríssemos o porquê depois (não, isso não é do filme, é apenas um exemplo de como a montagem age no nosso modo de sentir o filme). Só que esse estilo acaba por acarretar alguns problemas, como por exemplo algumas informações que são liberadas cedo demais, fazendo com que algumas cenas subseqüentes se tornem desnecessárias ou desinteressantes.

O ponto forte, sem dúvida, são as interpretações do trio principal. Depois de brilhar em Sobre Meninos e Lobos, Sean Penn encara um outro personagem difícil, que dentro da história nem tem muito o porquê sofrer. Ao contrário dos personagens de Benicio e Naomi, ele parece ser o único a procurar uma dor ao invés de ficar feliz com o que aconteceu. Só que o modo como isso acontece nunca soa artificial, porque Penn torna o personagem humano demais para isso. Naomi Watts finalmente tem um papel que pesa bem mais do que suas oportunidades anteriores, em O Chamado e no trabalho em que David Lynch a descobriu, Cidade dos Sonhos. A dor de sua personagem sem dúvida é a mais forte dos três, e a loiraça (que tem até cenas de nudez) não decepciona fazendo um trabalho excepcional. Benicio Del Toro está inacreditável e capta toda a ambigüidade do personagem, a ação que cometeu e a culpa que o acompanha. O engraçado é que li algumas reclamações a respeito de algumas ações dos personagens, que pareciam "inexplicáveis" dentro do filme. Mas para essas pessoas eu pergunto: numa situação idêntica ao que os personagens viveram, será que é justo com eles mesmo procurar uma certa razão? Não creio. Claramente o filme aborda também ações de espontaneidade, desespero, todos em busca da felicidade de cada um.

Aliás, o filme é muito sobre isso. Vencer o passado, continuar a viver, encontrarmos uma razão para ser feliz. Se pensarmos por esse lado, realmente existem vários filmes sobre o assunto. Mas o modo como 21 Gramas é contado o torna especial, com a sensibilidade que Alejandro já demonstrou em seus trabalhos anteriores, mesmo que pareça um pouco melodramático demais para alguns. Se adicionarmos as interpretações já comentadas, temos uma pequena grande obra, em um filme realmente envolvente, que nos faz entrar nele. E só isso já vale muito a pena.
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Rodrigo Cunha, cineplayers




Título Original: 21 Grams
Realização: Alejandro González Iñárritu
Argumento: Guillermo Arriaga
Interpretação: Sean Penn, Benicio Del Toro, Naomi Watts, Charlotte Gainsbourg, Melissa Leo, Clea DuVall
Direcção de Fotografia: Rodrigo Prieto
Montagem: Stephen Mirrione
Música: Gustavo Santaolalla
Origem: EUA
Ano de Estreia: 2003
Duração: 124’
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