PEDRO, O LOUCO. Os primeiros Almodovar são às 5f, em Agosto, n'Os Artistas. À borla!

QUINTAS DE CINEMA

AGOSTO | ESPLANADA D'OS ARTISTAS
22H | ENTRADA LIVRE


Pedro, O Louco



Os
irreverentes-hilariantes-provocadores-rebeldes

primeiros filmes de Pedro Almodóvar


porta-voz cinematográfico da MOVIDA MADRILENA



Dia 4
Pepi, Luci, Bom e Outras Tipas do Grupo (1980, 82’)

A primeira longa-metragem de Pedro Almodóvar representa de forma clara o espírito inicial do seu universo - personagens completamente absurdas, mas com senso de humanidade, por um lado,e os dramas femininos por outro.
O filme criou um enorme culto, sobretudo entre os grupos que constituíam o movimento pop “La Movida”, no qual se inseria Pedro Almodóvar, que soube como ninguém retratar em diversos filmes as suas cores berrantes e o seu glamour. Madrid, inícios dos anos 80. Pepi é uma mulher que foi violada pelo seu vizinho do lado, um polícia, que aproveita o facto dela ter um vaso com marijuana à janela para poder abusar dela. Pepi decide vingar-se, apelando à ajuda dos seus amigos punks, que, por engano, dão uma tareia no irmão gémeo do polícia violador. Mas Pepi, de seguida, apresenta Bom, um amigo seu cantor, a Luci, a mulher masoquista do polícia que julga estar apaixonada quando é sexualmente humilhada por Bom e decide deixar o marido. No entanto, o polícia apanha Luci a sós, dá-lhe uma tareia e ela regressa ao lar.


Foi ótimo ver que um dos meus cineastas preferidos já começou sua carreira acertando e que, desde o início da carreira, ele criou seu universo escandaloso, nonsense, sensual e irônico.

O filme é de 1980 e, se no fim da década de 70 e o início de 80 a moda era puro exagero, imaginem em um filme de Almodóvar? De chorar! Uma das personagens é meio punk, mas cheia de acessórios de plástico coloridíssimos, meias listradas, lembrando uma mistura dos clubbers (Jesus, lembram? Eu cometi esse equívoco visual) com jovens japonesas e Mary Moon quando apareceu. A maquiagem e os cabelos são outro show à parte – de novo, a garota punk se supera.

Engraçado também ver a transformação da personagem de Carmen Maura, a Pepi do título: de mocinha que quer leilor a virgindade, de trancinhas e suéter largo, à publicitária moderna e exótica. O visual da festa (maiô de paetê azul com óculos de grau amarelo) é demais. Aliás, quem puder ver o filme, reparem na participação do próprio Almodóvar (cabeludo e com bigode) como juiz de um concurso hilário.

Márcia Mesquita



Dia 11
Labirinto de Paixões (1982, 100’)

Madrid, anos 80. Uma cidade incómoda, selvagem e divertida.
Neste segundo trabalho, Almodóvar segue o seu estudo irreverente, recorrendo desta vez ao universo underground da época também nas cenas musicais. Trata-se de uma comédia cheia de caricaturas, como Fábio (Fany McNamara) que rouba a cena logo no início do filme. Almodóvar ainda faz uma participação notável no filme, como o director da novela em que Fábio actua.
Nela decorre uma história de amor invulgar, entre uma jovem ninfomaníaca e o filho homossexual de um imperador árabe. Ela, membro de um violento grupo musical, e ele, mais preocupado com os cosméticos e com os homens, são o fio condutor de uma série de relações entre as personagens mais diferentes que se podem encontrar.
Música, violência verbal, perseguições, paixão, sexo... e acima de tudo o amor e as suas dificuldades.


O rompimento da barreira da exibição restrita do curta-metragem em super-8 aconteceu em Pepi... e se refletiu na proposta do filme seguinte, Labirinto de Paixões – que procura retratar, numa trama chanchadesca e repleta de personagens, aquele certo período em que era concebido. Abrindo-se a ser um registro euforicamente sentimental de uma época, Labirinto de Paixões já nos apresenta Cecilia Roth numa personagem chamada Sexilia (como Pepi já havia apresentado Carmen Maura) e Almodóvar se registra como participante daquele período – como um diretor de foto-novelas e cantor de uma banda de rock performática. Não poderia ser mais pessoal – estava registrando a banda a que pertencia de fato, cantando músicas suas, fazendo performances bizarras no seu próprio longa-metragem. Molecagem bacana, com certeza. Laberinto de Pasiones, mesmo tendo evidentes problemas narrativos (ou, sendo mais claro, tendo uma trama sem importância e sem pé nem cabeça), tem um charme único, é o tipo de filme que poucos podem fazer, que tem algo a mais do que simples idéias, consegue sugerir um certo espírito de vida próprio de um momento. Talvez, sob certo aspecto, seja seu filme mais rico e corajoso. Traz, além disso, um interesse recorrente nos seus filmes: aqui aparece o fascínio pela paixão obsessiva.

Daniel Caetano




Dia 25

Negros Hábitos (1984, 114’)

Fugida da polícia, Yolanda Bell (Cristina Pascoal), refugia-se no convento das Irmãs Humilhadas Arrependidas, um convento muito pouco ortodoxo que recolhe mulheres da rua e onde as freiras mergulham nas sensações da carne de forma a libertar o espírito. Neste convento, a Madre Superiora (Julieta Serrano) droga-se com heroína e cocaína, as Irmãs têm nomes tão sugestivos como Irmã Esterco (Marisa Paredes), Irmã Rata De Rua (Chus Lampreave) ou Irmã Víbora (Lina Canalejas) e dão-se a actividades tão diversificadas como devaneios platónicos lésbicos ou cozinhar sob o efeito de LSD.

Sabida a sua pouca estima pela religião, especialmente a católica, o realizador dá a conhecer uma outra faceta de um grupo de freiras, com as suas vidas duplas e negros hábitos. Numa vida de convento, mostram-se outras dependências que não apenas as de Deus. Estreado no início da década de 80, o que teríamos sobretudo a destacar deste Negros Hábitos será a irreverência e originalidade do autor em retratar de uma forma assim tão descabida, mas ao mesmo tempo tão humana e realista a vida de um grupo de freiras, que antes de o serem, são mulheres com defeitos e fraquezas.

O estilo do realizador evidencia-se desde logo, com um contraste divertido entre a cor negra dos hábitos das freiras e as cores garridas dos seus costumes e dependências. Uma junção improvável de personagens exuberantes que surpreendem numa mistura de terços, rosários, drogas e livros eróticos. A estética de Pedro Almodóvar é a habitual: os tons vivos, os ângulos arriscados e exactos e o surrealismo espreitam entre cada cena do filme.

Tiago Ramos


Co-organização Os Artistas / Cineclube de Faro
.

Sem comentários: