5ªf, 22h, Artistas, à borla: o mais herege filme de Almodovar - Pedro, o LOUCO! surreal e hilariante!

O espanhol Pedro Almodóvar traz uma comédia irreverente e provavelmente um dos argumentos mais non-sense já escritos por ele.

Sabida a sua pouca estima pela religião, especialmente a católica, o realizador dá a conhecer uma outra faceta de um grupo de freiras, com as suas vidas duplas e negros hábitos. Numa vida de convento, mostram-se outras dependências que não apenas as de Deus. Estreado no início da década de 80, o que teríamos sobretudo a destacar deste Negros Hábitos será a irreverência e originalidade do autor em retratar de uma forma assim tão descabida, mas ao mesmo tempo tão humana e realista a vida de um grupo de freiras, que antes de o serem, são mulheres com defeitos e fraquezas.

O estilo do realizador evidencia-se desde logo, com um contraste divertido entre a cor negra dos hábitos das freiras e as cores garridas dos seus costumes e dependências. Uma junção improvável de personagens exuberantes que surpreendem numa mistura de terços, rosários, drogas e livros eróticos. A estética de Pedro Almodóvar é a habitual: os tons vivos, os ângulos arriscados e exactos e o surrealismo espreitam entre cada cena do filme.


Mais uma vez o tema central do realizador são as mulheres. As suas musas. Com muito de auto-biográfico, com muito egocentrismo que faz de Pedro Almodóvar um realizador que se auto-cita frequentemente, mas também que o torna num dos mais bem sucedidos além fronteiras. Cristina Sánchez Pascual, Julieta Serrano, Cecilia Roth, Carmen Maura entre outras são constantes na filmografia do realizador. São referências das mulheres da sua vida, são excelentes actrizes que dão cor às suas obras.

Tiago Ramos


É com um dos tematicamente mais controversos filmes da sua carreira e com uma certa dose de non-sense que Almodóvar faz uma arrojada e seca crítica à religião, um risco que custou a aceitação do filme no Festival de Cannes. Negros Hábitos retrata uma série de episódios na vida de uma peculiar congregação de freiras, que vivem num mosteiro quase de recurso, que se vestem de preto e que se guiam na vida pela direcção e em nome do pecado, ou não tivesse Jesus Cristo sido morto para nos redimir dos mesmos - na verdade, o nome das suas vestes, que empresta palavras ao título, é religiosamente transposto para acções, diálogos, filosofias e atitudes.


Em contraste com a rigorosa relação entre o preto e o branco, aqui irmãos da ordem, do compromisso e da humildade (uma vida de despojos), reflectem, cantam e exaltam-se sempre toda uma panóplia das mais emocionantes e despertadoras cores em volta das personagens, estabelecendo o feixe da direcção irónica que a película leva, bastião da "balda", do desleixo e do divertimento quase inconsequente - e se leva o moderador de adjectivo é porque a hipocrisia da madre superiora assim o exige. A droga, a criação de um animal selvagem, a protecção de uma prostituta criminosa intimamente ligada às próprias freiras, a extorsão de dinheiro, o passado marcado pelo assassínio ou o presente pautado pela homossexualidade, e a redacção de contos eróticos são o verdadeiro e leviano dia a dia destas mulheres de Deus, que não deixam de se prezar a um ridículo e falhado esforço de cobertura, de onde a mentira, a forja, a corrupção e o interesse pessoal emergem como triunfo e pseudo-exemplo.

Diogo F



Realização: Pedro Almodóvar
Montagem: José Salcedo
Fotografia: Ángel Luis Fernández
Música: Morris Albert, Carlos Arturo Eritz
Roteiro: Pedro Almodóvar
Produção: Luis Calvo

Interpretação:
Cristina Sánchez Pascual/Yolanda
Julieta Serrano/Madre Superiora Julia
Carmen Maura/Irmã Perdida
Marisa Paredes/Irmã Esterco
Chus Lampreave/Irmã Rata de Porão
Lina Canalejas/Irmã Víbora
Manuel Zarzo/Padre
Eva Siva/Antonia
Mary Carrillo/Marquesa
Cecília Roth/Merche
Agustín Almodóvar/Bancário

Origem: Espanha
Ano:1983
Duração: 115'
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