Despojos I - 25 de Setembro, 21:30, Auditório do IPDJ

E Agora, Onde Vamos?

Título original: Et Maintenant, On Va Où?
Realização: Nadine Labaki
Interpretação: Claude Baz Moussawbaa, Leyla Hakim, Nadine Labaki
Argumento: Rodney Al Haddid, Thomas Bidegain, Jihad Hojeily, Nadine Labaki, Sam Mounier
Fotografia: Christophe Offenstein
Música: Khaled Mouzannar 
Montagem: Véronique Lange
Classificação: M/12
Outros dados: FRA/EGI/Líbano/ITA, 2011, Cores, 110 min.
  

SINOPSE
Numa aldeia remota do Líbano vive uma comunidade dividida entre a religião cristã e islâmica. O lugar, rodeado por minas terrestres, tem apenas uma velha ponte que o liga às outras comunidades da zona. À medida que a guerra se agudiza no país, as mulheres da aldeia, fartas de fazer o luto pelos seus maridos e filhos, decidem boicotar a informação que lhes chega, destruindo o rádio e televisão comunitários. Porém, até então, e apesar das divergências religiosas, os seus habitantes vivem pacificamente a sua fé. Contudo, um evento vem contrariar aquela tranquilidade e os homens começam a disputar direitos e deveres, criando uma divisão entre os dois grupos religiosos num ambiente de tensão que cresce de dia para dia. É então que as mulheres, habituadas a conduzir os seus homens de uma maneira peculiar, de forma a desviar a sua atenção daqueles conflitos que ameaçam pôr em causa as boas relações entre todos, decidem contratar um grupo de dançarinas ocidentais e drogá-los com bolinhos de haxixe enquanto escondem todas as armas da aldeia....
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A actriz e realizadora libanesa Nadine Labaki que aos 29 anos se estreou na longa-metragem com a multipremiada comédia dramática romântica CARAMEL, filme que apenas em San Sebastián foi distinguido com o Prémio do Público, o Sebastian e o do Júri da Juventude, regressa quatro anos depois, com esta comédia dramática, centrada na vontade expressa pelas mulheres do seu país numa vida de paz entre cristãos e muçulmanos.
Se no primeiro, centrou a narrativa no quotidiano de cinco libanesas vivendo em Beirute, escolheu agora uma aldeia do seu país como cenário para este delicioso poema em que desempenha o papel de Amale, uma das mulheres envolvidas na luta pela paz.
Falada em árabe, russo e inglês, esta co-produção na cada dos 5 milhões de euros foi assegurada pela França, o Líbano, o Egipto e a Itália, e nela figuram nomes como a francesa Anne-Dominique Toussaint, o tunisino Tarak Ben Ammar e a própria Nadine Labaki.
Abrindo com imagens da aldeia perdida no deserto sob a narração duma mulher, para passar a um grupo de libanesas cantando e de imediato disparar numa sucessão de pequenos e grandes dramas, ao longo de cerca de uma hora e quarenta, assiste-se ao quotidiano destes libaneses rurais que apenas aspiram à paz e ao entendimento entre todos, para que os seus filhos cresçam saudáveis e felizes, sem sofrerem a imposição da guerra.
Como quase todos os filmes que nos chegam do médio oriente, este á duma beleza plástica impressionante, tanto pelo retrato vivo da terra, quanto pela restituição da alma dum povo mal-amado.
O cuidado posto em mais esta pérola que nos chega daquelas paragens e que por vezes nos remete para o bósnio Emir Kusturica, para o curdo iraniano Bahman Ghobadi ou para o argelino Tony Gatlif, tanto pelo apurado sentido de humor, quanto pela constante presença da música, pode ser fruto do cinema ser aqui “tirado a ferros”, mas é seguramente resultado dum à vontade com o som da vida e com a imagem em movimento, capaz de nos transportar para terras distantes e povos surreais na alegria de viver.
Desde a chegada do primeiro televisor, acompanhado da parabólica que os ligará ao mundo, até um milagre fracassado e outro bem sucedido, música e dança em fartura, discussões q.b. e belas mulheres, chegadas de fora com um propósito que irão dar nova cor às suas vidas, E AGORA, ONDE VAMOS?, de Nadine Labaki, merece a atenção de qualquer espectador disposto a descobrir que há mais e melhor do que o formatado cinema norte-americano para nos divertir, enriquecendo-nos o espírito.
Um filme que deve ser visto até às últimas imagens, uma derradeira lição de tolerância e onde se entende a razão de ser do título, imediatamente antes da dedicatória de Nadine à nos mères…”, com a sua rúbrica em árabe.
  


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