09.04.13| Cartas de Angola, Dulce Fernandes, com a presença da realizadora| 21:30, IPDJ


DIA 9
CARTAS DE ANGOLA, Dulce Fernandes, Portugal, 2011, 63’


Ficha Técnica
realização  - dulce fernandes
direcção de fotografia | ricardo filiaci
direcção de som | michel caballero
montagem | francisco costa
misturas áudio | joão eleutério
voz off | ana brandão e chaz mena
efeitos visuais | catarina lanusse
grafismo | mike mwaduma
coordenação de produção em angola | jaqueline mota
marketing e comunicação | rita gonzazlez e fátima santos filipe
direcção de produção | jacinta barros
produtores | rui simões (portugal) e antónio dos reis (angola)
 SINOPSE

Cartas de Angola é uma viagem a um passado esquecido e um olhar sobre uma memória geográfica onde duas histórias se intersectam: a história de uma portuguesa nascida em Angola nas vésperas da independência e as histórias dos cubanos que combateram na guerra em Angola. O filme, contado na primeira pessoa, é uma travessia pela Cuba de hoje e uma descoberta das histórias dos cubanos em Angola durante a guerra, através das quais se revela um passado perdido e uma ligação umbilical a uma terra distante. Um olhar íntimo e poético sobre aquilo que podemos aprender sobre nós próprios quando olhamos para os outros, Cartas de Angola é uma reflexão sobre o frágil lugar do indivíduo no contexto dos movimentos tectónicos da História. 

Prémios
documentário no festival de cinema digital de odemira 2011
1ª Menção Honrosa na categoria de Documentário Internacional no Festival Internacional Cine Puebla 2012

TRAILER


NOTA DA REALIZADORA
Conheci a Silvia há alguns anos atrás num cinema em Havana. O filme (esqueci-me qual era) fazia parte do Festival Internacional do Novo Cinema Latino Americano que ocorre em Havana todos os anos em Dezembro. O festival é tão popular junto do público cubano que muitas vezes se formam longas filas a volta dos quarteirões dos cinemas, na espera de conseguir bilhetes para o próximo filme.
Nesta atmosfera de celebração cinematográfica, a Silvia e eu fomos fomos jantar no bairro chinês ali ao pé. Depois de falarmos sobre os nossos filmes favoritos, as dificuldades da vida em Cuba e o quanto tinha arrefecido nessa noite, o momento incontornável aconteceu, tal como tinha já acontecido muitas vezes anteriormente e como haveria de acontecer muitas vezes depois. A Silvia perguntou-me de onde eu sou. Eu respondi que sou de Portugal, nascida em Angola. “Angola?”, perguntou ela, incrédula. Na família dela vários membros tinham estado na guerra em Angola – pai, irmão, irmã. Os homens como soldados, a irmã como cantora numa brigada cultural militar.
Aqui estava então, mais uma vez, a história dos cubanos em Angola, contos mágicos de um passado esquecido, vindo à superfície nos momentos mais inesperados. Comecei então a aperceber-me que não era estranho estas histórias estarem sempre a surgir uma vez que milhares de cubanos foram para a guerra em Angola, parte de uma vasta operação militar que durou quinze anos e afectou uma geração inteira. Falar de Angola, em qualquer parte de Cuba, provoca quase sempre um desembrulhar de histórias do passado.
E foi assim que Cartas de Angola, o documentário, começou. Primeiro, timidamente, como uma investigação destas histórias, reveladas nos momentos e nos lugares mais inesperados: um pescador numa praia remota no sopé da Serra Maestra que esteve no Uíge; um cinema com o nome de uma província angolana na praça central de Guantanamo; um saco de plástico cheio de fotografias amarelecidas de Angola que me foi dado num casa mal iluminada nos arrabaldes de Havana.
Depois, mais tarde, o filme tornou-se uma maneira de eu entender a minha própria história, aquilo que me aconteceu e à minha família, através dos cubanos, também eles frágeis partículas no meio dos turbilhões da História. Tal como eu, apanhada no meio das convulsões do tempo – a derrocada de um império de quinhentos anos, o êxodo maciço de milhares de pessoas, um novo país que nascia – os cubanos foram igualmente apanhados no turbilhão de um processo histórico que mudaria para sempre as suas vidas.
Terminado o jantar, a Silvia, também ela cantora, começou a entoar a melodia de Valodia, uma canção revolucionaria angolana dos anos 70. No frio da noite de Havana, a Silvia cantou em português quase perfeito, lembrando-se ainda de cada palavra numa canção que ela não tinha ouvido há mais de duas décadas. Povo Angolano, todos bem vigilantes....
Dulce Fernandes, Brooklyn, 8 Setembro 2011

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