VIRAMUNDO, Pierre-Yves Borgeaud, 2013 | 01.10.13 | Auditório do IPDJ, 21:30

DIA 1 DE OUTUBRO
VIRAMUNDO, Pierre-Yves Borgeaud, Suiça/França, 2013, 95’

FICHA TÉCNICA
Título Original: Viramundo
Realização: Pierre-Yves Borgeaud
Montagem: Daniel Gibel
Interpretação: Peter Garret, Gilberto Gil, Paul Hanmer
Origem: Suíça, França
Ano: 2013
Duração : 95’

SINOPSE
Depois de décadas de concertos esgotados e reconhecimento internacional, o músico Gilberto Gil embarca num novo género de tournée mundial pelo hemisfério sul. Do Brasil à Austrália, passando pela África do Sul, Gilberto Gil continua o trabalho que iniciou no Ministério da Cultura, quando se tornou no primeiro ministro negro do Brasil – promovendo o poder da diversidade cultural num mundo globalizado e partilhando a sua visão do nosso futuro comum: um planeta diverso e interligado carregado de esperança, partilha… e, claro, música!


CRITICA:
“VIRAMUNDO é sobretudo uma homenagem a culturas em risco de extinção, numa fascinante busca de afinidades.”
Manuel Halpern, Jornal de Letras

“VIRAMUNDO é uma observação da curiosidade em ação, acompanhando o tropicalista Gilberto Gil numa viagem pela Austrália, África do Sul e Brasil em busca de traços de miscigenação entre as culturas indígenas e ocidentais”
Jorge Mourinha, Público


DECLARAÇÃO DO DIRECTOR 
Quero que VIRAMUNDO seja o retrato de um Gilberto Gil arreigado no presente e, ao mesmo tempo, questionando a universalidade de algumas das suas visões e pontos de vista. Como importante cantor e compositor, assim como antigo ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil tem vindo a promover a ambição de um mundo mais equilibrado, onde “brancos” e “negros” possam ter as mesmas possibilidades e onde as novas tecnologias e formas de comunicação possam moldar territórios abertos a toda a gente – especialmente para aqueles que vivem nas periferias do “mundo moderno”. Será possível à sociedade funcionar sem o fardo da discriminação racial? Será possível imaginar um novo mundo, uma nova sociedade baseada na participação, que promova a inclusão na diversidade em vez da sua exclusão? Há um país que de forma elegante dá uma resposta a estas questões: o Brasil. Desde há vários anos que o Brasil procura que todos no país possam ter acesso às novas tecnologias, consideradas como ferramentas essenciais para a liberdade e a emancipação.



Associando este compromisso político com o seu passado de luta anticolonial e a sua celebração da diversidade cultural. E se, na era do Skype, Google e Facebook com os seus 400 milhões de utilizadores, essa contribuição para a cultura global for hoje mais relevante que nunca? Por outras palavras, será que “a solução brasileira” poderá funcionar noutros lugares do mundo? Como nos países “do Sul”, onde são mais quentes e dramáticas as questões de discriminação? Gilberto Gil, lenda viva que simboliza o compromisso artístico e encarna o multiculturalismo brasileiro, é a pessoa mais bem colocada para encarar o desafio de responder a estas questões. VIRA-MUNDO segue Gilberto Gil nas suas viagens a várias regiões onde “a solução multicultural brasileira” não parece estar a funcionar: primeiro à África do Sul pós-apartheid, a seguir até às martirizadas terras dos aborígenes australianos e, finalmente, no seu Brasil, até à floresta tropical da Amazónia. Hoje, Gilberto Gil é um sexagenário entusiasta e sereno. Há alguns anos, deixou o governo brasileiro para regressar à música e criar canções que expressam os seus valores humanistas e a sua visão de um mundo mais livre e igualitário. VIRAMUNDO força Gilberto Gil a deixar a sua zona de conforto e viajar para sítios onde os assuntos raciais permanecem omnipresentes, problemáticos e dolorosos. O filme está focado na sua reação e abordagem a estas divisões e preconceitos. Que pode ele dizer sobre a sociedade pós-apartheid ou levar aos aborígenes que lutam pela sobrevivência e a proteção da sua identidade? Onde descobre ele o espaço comum entre sul-africanos, australianos e índios da Amazónia? Claro que a música tem um papel central em VIRAMUNDO. A música serve de ligação entre continentes, culturas e gerações. Mesmo tendo-se envolvido na política, levado pela força das suas convicções e por uma indiscutível capacidade de comunicação, Gil sabe que a música e a poesia são as formas mais eficientes para chegar ao coração das coisas. 


A música é uma maneira muito forte de expressar a identidade ao mesmo tempo que é uma linguagem universal, capaz de transmitir para lá das palavras a possibilidade de viver em conjunto e a beleza da diversidade cultural. E Gilberto Gil é, certamente, um dos músicos mais qualificados no mundo para estabelecer estas ligações profundas entre géneros musicais aparentemente distantes, tendo já combinado na sua prolífica carreira a música popular brasileira com o rock, o reggae, os ritmos africanos. VIRAMUNDO é um diálogo musical mas não procura apagar as diferenças, nem mesmo as incompatibilidades. Parte daquilo que quero mostrar é a dificuldade em encontrar formas multiculturais que mantenham a identidade de cada grupo sem a diluir. VIRAMUNDO é uma tentativa de sintetizar uma realidade complexa, tal como fazem algumas das melhores canções de Gilberto Gil. Através da música, Gil parece capaz de transcender as fronteiras entre arte, cultura e política – um músico ativista assim como um político artista. Desde a terra de Gil na Baía, viajamos até à África do Sul e Austrália, antes de voltarmos ao Brasil para dar um concerto na floresta amazónica. Desde este local remoto ou de qualquer outro lugar, este é o som de um resistente ativo expressando a sua opinião e esperança para o mundo inteiro e contra a imposição de uma cultura maioritária.
Pierre-Yves Borgeaud




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