TAXI | 20 OUTUBRO | TMF | 21H30

TÁXI
Jafar Panahi
Irão, 2015, 82’, M/12


FICHA TÉCNICA
Realização, argumento, fotografia, montagem e produção: Jafar Panahi
Origem: Irão
Ano: 2015

Duração: 82’

FESTIVAIS
Festival de Berlim - Urso de Ouro Melhor Filme









CRÍTICA
Proibido de filmar durante vinte anos, Jafar Panahi continua a fazer filmes: "Taxi" é mais um extraordinário exemplo da sua tenacidade criativa e artística — foi o vencedor do Festival de Berlim de 2015.
A imagem mostra-nos a sobrinha de Jafar Panahi. Debruçando-se sobre o interior do carro em que o tio a veio buscar à escola, protesta duplamente: primeiro, porque ele está muito atrasado; segundo, porque o tem elogiado junto das colegas (sublinhando o facto de ele ser um "cineasta"), desse modo sentindo-se humilhada por ele aparecer ao volante de um... taxi!
Afinal de contas, no seu filme "Taxi", Panahi conduz ou não um taxi? Sim, sem dúvida — digamos que ele interpreta um motorista que, através dos seus passageiros, nos vai revelando a variedade dos cidadãos de Teerão, envolvendo comportamentos que vão desde a mais violenta arrogância (contra as mulheres) até à defesa da dignidade humana (nas palavras de uma advogada dos direitos humanos).
Ao mesmo tempo, tudo se passa como se entrássemos num infinito jogo de espelhos: Panahi é a sua personagem, típica e artificiosa, mas nunca deixa de ser aquilo que é, observador e cineasta — há mesmo um passageiro que o trata pelo nome e lhe diz, sorridente, que percebeu que ele anda a fazer um filme...
Há outra maneira de dizer isto: o exercício de alegre desmontagem do cinema enquanto dispositivo de representação funciona também como um gesto de afirmação artística face às condições em que Panahi tem sido obrigado a viver. De facto, em 2010, ele foi condenado pelas autoridades iranianas a seis anos de prisão domiciliária, estando também proibido de filmar durante vinte anos.
Distinguido com o Urso de Ouro do Festival de Berlim, "Taxi" é o terceiro filme que Panahi realiza nestas drásticas condições, depois de "Isto Não É um Filme" (2011) e "Closed Curtain" (2013). Na sua metódica deambulação pelas ruas, estamos perante um gesto de admirável afirmação de liberdade criativa, celebrando o cinema como essa vontade indomável de olhar o mundo à sua volta — mesmo não saindo do espaço exíguo de um taxi.
João Lopes, rtp.pt/cinemax


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