TÃO SÓ O FIM DO MUNDO | 29 NOV | 21H30 | IPDJ


TÃO SÓ O FIM DO MUNDO
Xavier Dolan 
Canadá/ França, 2016, 95’, M/14


SINOPSE
Louis é um escritor que regressa a casa depois de 12 anos de ausência para comunicar à família que está à beira da morte. Este encontro, que já se previa difícil pelas circunstâncias, vai despertar ressentimentos e abrir feridas antigas, gerando uma espécie de ajuste de contas entre todos.
  FICHA TÉCNICA
Título Original: Juste La Fin Du Monde
Realização: Xavier Dolan
Argumento: Xavier Dolan, inspirado na peça homónima de Jean-Luc Lagarce
Monatgem: Xavier Dolan
Fotografia: André Turpin
Música: Gabriel Yared
Interpretação: Gaspard Ulliel, Nathalie Baye, Léa Seydoux, Marion Cotillard, Vincent Cassel
Origem: Canadá/França
Duração: 95'


FESTIVAIS E PRÉMIOS
Festival de Cannes - Grande Prémio
Festival de Cannes - Prémio do Júri Ecuménico




NOTA DE INTENÇÕES

Foi em 2010 ou 2011, já não me recordo. Mas pouco tempo depois de J’AI TUÉ MA MÈRE, estava em casa da Anne Dorval, na cozinha onde acabamos por nos sentar sempre a conversar, a pôr a conversa em dia, a ver fotografias, ou muitas vezes onde ficamos simplesmente calados. Ela falou-me duma peça extraordinária que tinha tido a sorte de interpretar por volta do ano 2000.
Nunca, disse-me ela, tinha representado e dito coisas escritas e pensadas daquela maneira, numa línguatão intensamente particular. Estava convencida que eu tinha mesmo de ler o texto, que ela até tinha já ali,ainda com as anotações que nele fizera dez anos antes. Notas de representação, posições em cena e outros pormenores escritos na margem.
Levei comigo aquele texto imponente, impresso em grande formato. A leitura anunciava-se exigente. Naverdade, não me senti fulminado como a Anne previra. Para ser sincero, naquele universo, senti uma espécie de desinteresse, de aversão até, pela língua. Tive para com a história e os personagens um certo bloqueio intelectual que me impediu de gostar da peça tão aplaudida pela minha amiga. Devia estar demasiado impaciente com algum projecto ou a pensar do meu próximo penteado, para sentir em profundidade esta primeira leitura diagonal. Pus de lado o TÃO SÓ O FIM DO MUNDO e nunca mais falámos disso, eu e a Anne.
Depois de MOMMY, quatro anos depois disso, lembrei-me daquele enorme texto, arrumado na estante da sala, na prateleira mais alta. O volume era tão grande que sobressaía relativamente aos outros livros e documentos entre os quais estava, altivo, como se soubesse que não podíamos esquecê-lo indefinidamente.
Nesse Verão, reli, ou melhor, li verdadeiramente o TÃO SÓ O FIM DO MUNDO. Chegado à página 6, já sabia que viria a ser o meu próximo filme. O meu primeiro filme enquanto homem. Compreendia por fim as palavras, as emoções, os silêncios, as hesitações, o nervosismo, as imperfeições perturbadoras dos personagens de Jean-Luc Lagarce. Em defesa da peça, penso que à primeira, não a li de forma séria; em minha defesa, penso que, mesmo que tivesse tentado, não a teria podido compreender. O tempo é bom conselheiro. A Anne, como sempre ou quase sempre, tinha razão.
Xavier Dolan